24 de fevereiro de 2021

DOM CASMURRO - MACHADO DE ASSIS

DOM CASMURRO - MACHADO DE ASSIS

Seria a bela Capitu, com seus "olhos de cigana oblíqua e dissimulada", uma adúltera? Teria fundamento o ciúme que corrói a alma de Bentinho? Com finura psicológica e incomparável maestria literária, o grande Machado de Assis mergulha na vida interior do protagonista-narrador, mostrando como a dúvida embaça as emoções e mistura real e imaginário, passado e presente. Uma obra-prima da literatura universal.


NOTA SOBRE O LIVRO:

Dom Casmurro foi publicado a primeira vez em 1899. A história mostra o olhar crítico do autor para com a sociedade da época, através de seus personagens, além do tema principal, que é o ciúmes. Algumas pessoas costumam dizer que os personagens principais da história são Capitu e Bentinho, mas eu digo que o personagem central é o ciúmes. É ele quem domina a história e a vida do narrador e mais, foi trabalhado com tanta sabedoria que mesmo depois de 122 anos de existência ainda causa discussão. Capitu traiu ou não trai Bentinho?

A história é narrada em primeira pessoa pelo Bentinho, quando estava próximo dos 60 anos. 

Casmurro: indivíduo fechado em si mesmo, sorumbático, teimoso, ensimesmado, obstinado.

O título de Dom Casmurro se dá porque certa vez um poeta tentou ler para Bentinho alguns versos de seu poema em um trem. Como Bentinho acabou cochilando, o rapaz sentindo-se irritado e constrangido, passou a chamá-lo desta forma. Bentinho chama essa narrativa de  sua história de "atar as duas pontas da vida". A trama começa por sua infância e o casarão da rua Matacavalos em que vivia com a família até seu final.

Bentinho era filho único. O pai, Pedro Albuquerque Santiago, havia falecido e ele viva apenas com sua mãe, dona Glória, mulher muito religiosa. Antes de Bentinho nascer, ela havia feito uma promessa que, se seu próximo filho fosse um menino, que ele seria padre. Isso aconteceu porque dona Glória perdeu o primeiro filho.

Certo dia Bentinho ouviu uma conversa entre José Dias e Dona Glória, em que a mãe relatava a intensão de enviar o filho ao convento. Nesta conversa com José Dias, Dona Glória ficou sabendo da amizade próxima que o filho tinha com Capitolina.

Bentinho ficou revoltado com José Dias, que o entregou para a mãe expondo sua proximidade com Capitu. Após ouvir o relato de Bentinho, Capitu começou a planejar um jeito de livrar Bentinho do seminário, mas, todos os esforços foram em vão. Bentinho foi enviado para o seminário mesmo contra vontade, porém, antes de partir, beijou Capitu prometendo voltar e se casar com ela.

Capitolina (Capitu) era só uma menina que foi se transformando em uma mulher inteligente, prática e de personalidade marcante. Ela se tornou dona do romance completamente. Sua personagem foi tão bem construída pelo autor, que ela consegue envolver o leitor na trama, seduzi-lo e fazê-lo gostar de sua sensualidade. Ela também era misteriosa e enigmática. 

José Dias não era um membro da família, era o chamado "agregado". Ele surgiu, um dia, quando o pai de Bentinho ainda era vivo, se dizendo médico homeopata, foi se encostando e ficando. Sabia como agradar a todos e se fazer necessário. Com o tempo foi ganhando certa autonomia sobre a família, como se realmente dela fizesse parte. Sabia jogar dos dois lados, ou seja, uma hora incentivava a mãe de Bentinho a enviar-lhe ao seminário e em outra hora se moldava às vontades de Bentinho, que queria fugir de lá. Eu diria que era um sujeito duas caras e que fazia a política da boa vizinhança para não ficar mal com ninguém e assim ter o que queria.

Dona Fortunata e Senhor Pádua eram os pais de Capitu e viam na possibilidade de relacionamento o passaporte para a mudança de vida, ou seja, naquela época já haviam pessoas interessadas em se darem bem com casamentos arranjados. O famoso golpe do baú. Capitu, diferente dos pais, amava Bentinho de verdade, tanto que esperou por ele enquanto esteve no convento. Nesse ponto eu não acredito que ela tenha sido interesseira.

No seminário Bentinho conheceu Ezequiel de Souza Escobar, com quem estreitou os laços de amizade. Em uma de suas visitas à família, Bentinho levou Escobar com ele e Capitu conheceu o amigo de Bentinho.

Foi durante o período que Bentinho esteve no seminário que Capitu acabou se aproximando de Dona Glória, que convivendo com a garota, passou a enxergá-la com outros olhos e fazer gosto pela relação com o filho. O problema era que ela não sabia como fazer para se livrar da promessa que havia feito. 

Obs: Que mania que certas pessoas tem de fazer promessas para os outros cumprirem. Por que ela não prometeu ficar um ano sem comer chocolate ou cinco anos sem tomar Coca-Cola? Não, ela tinha que prometer que o filho seria padre! (risos). Estou pensando seriamente em fazer uma promessa que alguém cumpra por mim.

Então, Escobar malandramente descobriu um jeito de modificar a promessa de Dona Glória, livrando a cara de Bentinho, que abandonou o seminário e foi estudar Direito no Largo São Francisco (São Paulo/SP), tonando-se advogado.

OBS:
Para quem não conhece, a Universidade de Direito do Largo São Francisco tem mais de 190 anos de existência e já formou diversas personalidades. Não só no curso de Direito, mas em outras áreas, como a literatura por exemplo. Está localizada no Largo São Francisco no centro da cidade de São Paulo. Sua arquitetura é fantástica e muito imponente. Ela é parte da história cultural de São Paulo e foi palco de importantes movimentos sociais e políticos.

Finalmente Bentinho se casou com Capitu e Escobar se casou com Sancha, que era amiga de Capitu dos tempos de escola. Os dois casais eram bem unidos. Logo Escobar e Sancha tiveram uma filha, mas Bentinho e Capitu não tiveram a mesma facilidade de imediato. Somente alguns anos depois foi que Bentinho e Capitu tiveram o primeiro filho. Originalidade à parte, a filha de Escobar e Sancha foi batizada com o nome de Capitolina enquanto que o filho de Bentinho e Capitu foi batizado de Ezequiel.

Foi quando Bentinho passou a ver as semelhanças que o filho tinha com o amigo Escobar (Ezequiel) que ele começou a desconfiar da fidelidade da esposa.

Infelizmente Escobar acabou morrendo afogado em um dos passeios que fizera à praia. 

Em um momento de fúria e desatino, Bentinho tenta matar o filho, mas Capitu entra na sala surpreendendo-o e em tempo de ouvir o marido dizer ao garoto que não era seu pai. Capitu lamentou. Segundo ela, o ciúme foi despertado pela casualidade da semelhança entre o amigo falecido e o filho.

Após inúmeras discussões, o casal acabou se separando. Para encobrir a nova condição, arranjaram uma viagem para a Europa. Algum tempo depois Bentinho retornou sozinho e Capitu acabou morrendo na Europa. Ezequiel tentou reatar a relação com o pai, mas seu objetivo não teve sucesso, pois Bentinho não superava a semelhança do filho com o amigo e o sabor da traição.

Durante uma pesquisa arqueológica que Ezequiel fazia em Jerusalém, acabou contraindo a febre tifoide e morreu. Triste e amargurado, Bentinho construiu uma casa na rua Matacavalos que era a reprodução de sua casa de infância. Sozinho, sem ninguém e infeliz, desdenhou dizendo que restava apenas escrever uma nova história, então, sobre os subúrbios.

Impossível falar deste livro sem revelar spooler, até porque, todo mundo sabe o que aconteceu, mas esta é uma obra que permite isso. Necessita dessa revelação para poder falar dela com dignidade.


Bentinho sempre foi apaixonado por Capitu, mas o ciúmes falou mais alto que tudo. Em nenhum momento ela assume um envolvimento com Escobar então, não sabemos até que ponto era verdade. Ela poderia ser dissimulada ao ponto de negar até a morte ou seria esta traição realmente fruto da imaginação e do ciúmes de Bentinho?

Machado foi mestre e conseguiu seu intento, que era provocar no leitor além de unir temas como classes sociais e suas diferenças, amor, traição, ciúmes e solidão.

Eu recomendo esta leitura, releitura quantas vezes por possível.


NOTA SOBRE O AUTOR:

Conhecido como Machado de Assis, Joaquim Maria Machado de Assis foi e continua sendo um dos maiores nomes dentro da literatura brasileira. Eu digo que seria o maior. Nasceu em 21/06/1939 e faleceu em 29/09/1908, no Rio de Janeiro, deixando uma obra impecável e que eu creio ser muito difícil de ser superada algum dia. Quando fiz faculdade de Letras na FMU-SP tive o prazer de ter aula com o melhor professor de Literatura Brasileira (Prof. Ricardo Miyake) e garanto que não conheço outro alguém com mais conhecimento sobre Machado de Assis do que ele. Foi então que Dom Casmurro passou a ser minha obra favorita.

Sendo assim, esta não seria uma postagem tão simples. Falar de Machado de Assis e Dom Casmurro é uma responsabilidade muito grande.

Clique aqui e tenha acesso às obras de Machado de Assis diretamente pelo Portal do Mec. Segundo o Mec "O projeto de edição das obras de Machado de Assis em formato digital foi pensado, primeiramente como parte das atividades que marcam a vida e obras do autor, além de responder à necessidade de ampliar o acesso a sua obra, aos estudantes dos diferentes níveis e ao público leitor em geral." (Este parágrafo foi retirado na íntegra do Portal do Mec).


Nota de Rodapé: A minha edição do livro tem esta capa, publicada em 1975. Sim, a edição é um pouco mais velha que eu, mas foi uma "herança" recebida. Apego 100%

Boa leitura!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE SEU COMENTÁRIO SOBRE ESTA PUBLICAÇÃO!